No ano do lobo ou o preço do caos | Capítulo 2

Capítulo 1

Capítulo II

Só podemos fazer o certo, como vemos o certo. Através da persiana deformada o sol transparece em feixes fortes, depois de longa batalha com enturves céus escurecidos, chocando-se na tinta recém pintada sobre a parede em sus rugosa. Observando pingos sobre o chão, atrevo-me a ir de encontro á luz. Entre os filetes de tecido sintético meus dedos embaraçam-se á abrir caminho por onde minha vista se encoraja em atenção, não demora a cabeça passa os limites do portal e a testa toca o vidro gélido, sinto a barreira invisível que me segura transpor a beleza. Meu corpo nada sente senão a falta de intensidade, uma potencia inacessível tal a falta de gravidade sobre meus ossos. Não vejo um azul sequer, tudo se parece cinza, escuro, turvo, no entanto, as grades traçam ao chão suas sombras enfileiradas, mas não me impede, nem as poças de lama, brilharem sobre o sol que teima em sobrepor o caos. Nesse momento tenho certeza que uma ordem guia-me sobre os campos, independentemente da natureza que me assombra.

Almejo, sonho em transpor tais grades, mas tartamudeio em gratidão a gritos estridentes, porem inaudíveis, que ecoam sobre mim e sobre o medo do destino provar-me errado. Não é só isso; consigo ver daqui a aparência daquele piso, sujo, arrogante, feito de lama, nada, duro e seco, egoistamente exige marcar as bainhas de todos que se atrevem a pisar sobre si.

Não deixei que meu medo me guiasse, é bem verdade que as consequências de transpor aquelas barreiras seriam inimaginavelmente dolorosas, mas tinha de faze-lo. Quando olho para trás não vejo senão a escuridão. Vejo o copo de vinho derramado sobre aqueles de quem me aproximei.

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