Uma Loja Milenar – Capítulo IV

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Uma loja Milenar

IV

A sala não tinha nenhuma janela, duto de ventilação ou persiana. Um gigantesco quadro pendurado na parede, logo atrás de uma mesa de madeira. No meio do lugar vigorava uma elegante cadeira, Em uma bela combinação de couro de búfalo e madeira de Jatobá. Caco foi convidado a se sentar nela. Ele estava começando a se amedrontar, mas algo no lugar, seu cheiro talvez, o fazia se sentir bem. Em um pulo ele foi parar em cima da cadeira. Hum, aconchegante, pensou.

— Sabe o que você é? Você não merece ao menos o direito de se sentar nesta cadeira.

Alguém disse prós trás dele. Caco olhou sobre o ombro e respondeu.

— No entanto aqui estou, certo?

O senhor, com seu terno azul cravejado de listras cinzas verticais pairava na porta, categoricamente em frente a Caco. Em forma de “U” se arranjavam os quatro demais. O primeiro da esquerda vistia-se totalmente de branco, nele grassa a peste, sua postura ereta e parecer conciso escondem sua desordem interior podre. Em seguinte, do lado do braço esquerdo de caco, em sua vigorosa beleza; cabelos pretos, lábios carnudos, e um corpo, utopicamente, na mente de Caco, perfeito. Brilhava com seu vestido roxo, em suas raízes o campo não traz fartura, mas sustenta a vida de um lutador honrado e de um povo, conforto, eternidade e Glória. Do outro, um cerne de gordura assenta-se na cadeira, aparentemente indestrutível, com seu gigantesco poncho vermelho vive a terra e o que falta dele, para si não há bom pão, só a falta dele. Por ultimo, impotente em seu terno surpreendentemente preto, rodava o anel em torno de seu dedo fitando Caco com os olhos, Sua presença não é nada pra nós e quando vive não houvemos mais para si próprios.

— Sua perspicácia me impressiona. Não é atoa que carrega nosso sangue. Agora, deixe-me ver sua relação com minha pessoa. Muitos dizem que eu sou a pior coisa do mundo, outros que é o nosso amigo ali na frente. — Apontou para a linda moça a sua frente. — A cabeça deste povo gira em torno de nada. Veja bem, há alguns anos atrás seria impossível, eu digo impossível nós chegarmos ao ponto em que estamos hoje, ao nível hierárquico em que chegamos. Quando digo nós entenda como eu, sua suposta avó, e esses outros senhores e senhoras que vês. Vamos a você, quanto que a fome te afeta?

— Veja, não me afeta. Não passei fome e não me lembro de vê alguém nesta situação. Só o que posso dizer é que ao se organizar em sociedade o homem criou uma desigualdade. De um lado, uma minoria rica e de outro, a grande maioria pobre. Porque dizes que possuo seu sague?

— Foi o que leu? Não esta totalmente errada, mas diga-me que fator influenciou o homem a criar esta barreira? — Continuou o homem do poncho.

— Sei que não foi por pura e espontânea vontade.

— Seu sangue não é comum. Não esta ciente, ninguém esta, o processo de colonização foi a exploração das terras dos outros ao máximo, na América onde hoje é a região comandada pela Granis Ind, no seu vale do recôncavo, Ásia, chapada diamantina pela brass’s word e África, baixo sul, nosso polo industrial. As pessoas não tinham o sentimento de pertencimento de mesma espécie, quando se separavam em grupos, países, o inimigo era a si mesmo. Mas o seu medo não os deixavam livres. Hoje damos a vontade e a potencia, realização, para suas ideias. — Finalizou, estendendo a mão para o lado em direção ao careca de preto.

— A pobreza não é causa da violência. A violência é necessária para a existência do universo, pois trás a morte. E a morte move os universos. Quando o lobo anda caçando todas as ovelhas, logo morrera de fome, o pastor planta e colhe, mantem as ovelhas, mantem a energia. Não imaginas como poderia ser. Quando aliada à dificuldade em oferecer melhor distribuição da plantação, torna os mais pobres e mais atraentes para o burburinho. Todos tendem a auto preservação, a injuria e a separação deixa-as para o lobo. Agindo apenas em função do medo, se retraindo simplesmente, não há possibilidade de conseguir operar bem, não vão conseguir enfrentar esta violência. Só vão replicar e aumentar o processo, vão reproduzi-lo. Quando começamos nosso legado o caos se instaurou por completo, as ruas viraram um campo de guerra.

A linda moça então começou a falar.

— Eu prefiro mostrar-lhe. A mulher se levantou e andou na direção de Caco, pegando-o pelo braço o levantou da poltrona.

— O que você vai fazer? — Perguntou caco curioso.

A mulher colocou os dedos nos olhos de Caco fechando-os, depois tirou. Caco abriu os olhos. Ele não estava mais na pequena sala. As paredes tomaram forma de arvores e o piso de terra, as montanhas ao fundo e o céu limpo, era um dia ensolarado na floresta. Nas sombras das arvores estavam um grupo de pessoas, sentadas, uma mãe ia alimentando de frutos a si e a seus filhos. Viviam ali mesmo.

— Aqui não ha ameaça de predadores. — Falou Ela.

Uma fumaça negra nublou-o toda a visão por um instante, ao voltar tinham mudando outra vez. Agora Caco estava no meio de uma guerra entre gigantes mamutes e algumas pessoas. Ele olhou para o lado varrendo o lugar, e avistou uma lança no ar, vindo a sua direção, ela já estava a centímetros da sua cabeça.  Estremeceu-se temendo a morte, a lança por outro lado apenas atravessou seu corpo como se não estivesse lá.

— Este grupo convive diariamente com desafios. Agora veja o que aconteceu alguns dias depois.

A cena gira e volta para a floresta. Agora é noite, existe uma espécie de tenda entre duas arvores. — Observe. — Disse. Caco olhou atentamente a tenda e viu com clareza dois nômades puxando o corpo da mãe e seus dois filhos para fora da tenda e jogando-os em uma cova rasa. Do outro lado outros carregavam toda a comida.

Caco, olhando atentamente, percebe cada vez menos a necessidade de se intrometer.  — Que aconteceu?

— Apenas o natural. Animais sem qualquer interesse.

— Eles somente galgavam seu bem estar. Coisas ruins acontecem a pessoas boas. O que queres dizer?

— Eles acham que a paz é o motor do desenvolvimento, mas esta característica não esta presente em todos os humanos, Não existe só uma paz a ser alcançada, nem só um meio de se alcança-la.

— Ela sorriu de canto e retirou Caco do devaneio.

*****

Ele permaneceu em pé por um instante e lhe ocorreu ter visto uma gora de sangue escorrendo de uma das estatuas. Assim foi checa-la, no pedestal, lia-se: “Enrica Andreani Fin Brown – ☆ 2408 ”.

— Quando isso foi feito? Não faz nem um dia de sua morte, e já esta marcada na pedra.

— A morte é uma coisa interessante, ninguém sabe nada sobre ela, todos confiam ir a um lugar melhor quando ela vier, mas todos a temem. Ela estava predestinada a isso, e você a assumir seu lugar. — Disse o homem, arrumando seu terno. — A mim diziam-me: Somos, sim, aqueles mentirosos. Mentirosos! Sem sabem que falam com suas transparências, sabem. Depressões e crises sucessivas, a mente não aguenta, vulcanizam em poder e injustiças, venerando nosso calcanhar.

Todos se levantaram e em um piscar sumiram em nevoas.  Caco via sentido em toda parte. Dotado de um olhar estranho, faiscante. Em sua cabeça a razão lhe gritava que algo estava muito errado, mas seus sentidos cada vez mais relaxavam, havia finalmente um lugar que admitia sua insanidade.

— Vamos. — O senhor levantou sua muleta e virou-se de costas a Caco, que se manteve inerte. — Você não vem?

O senhor colocou a mão na maçaneta da porta, girou e a empurrou. Do outro lado não existira um corredor comum. Um lance gigantesco de escadas partia da porta até o nível mais baixo possivel. Cheio de encruzilhadas, e corredores. Muito longe do imaginado por Caco. As paredes de ladrilho da escada não eram nem um pouco sebosas. Caco chegou à porta e parou ao lado do Senhor.

— Essa é a sua empresa agora, como direito. — Disse apontando o dedo em direção as escadas. — Esse é o inferno.

— Não acredito.

Na entrada uma placa estava pendurada. Nela dizia; “Bem vindos ao inferno”, em seguida: “Saguão principal” com uma seta apontando para baixo.


—— Marcos G Plymouth

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